Como Enganares o teu Munícipe
2025-08-24 Porto turismo
Como residente posso comprar um “Ticket Porto.” para visitar a Livraria Lello com prioridade. O valor é dedutivel na compra de livros. Parece claro, um bilhete e, numa livraria, o valor dá para comprar livros. Ainda por cima atiram um “o Porto primeiro”! Decido finalmente: vamos lá então mostrar a escada às miúdas.

No entanto, há ali um pequeno detalhe cujo alcance passa despercebido ao incauto comprador: às páginas tantas, o “Ticket” passa a chamar-se “Ticket-Voucher”. Mas isso é porque também é para trocar por livros, como é óbvio. Atrás do “+ info” sabemos que o agora somente “Voucher” é “Pessoal e intransmissível” o que parece fazer todo sentido porque tive que comprovar que sou titular do “Cartão Porto.”. Comprei uma coisa, já vai com 3 nomes… Em retrospetiva, devia ter sido mais cauteloso.

Já dentro da livraria, esmagado contra as prateleiras (esta regra eu já conhecia) de livros bastante mal-tratados, percebo que a enorme maioria são edições próprias de clássicos e compêndios, traduzidas em várias línguas, em livros de capa mole que parecem pequenos face às edições que conheço. O reduzido tamanho da letra e espaçamento explicam a dimensão do livro. Não parece confortável, mas eu também já devo estar a ver pior. Também constato que os livros começam a €16,90, seja o Tom Sawyer, seja o compêndio de contos da Lello nos vários idiomas, seja também o bloco de notas em branco. Parece estranho um livro em branco custar tanto como um livro traduzido. Mas, claro, o que interessam são os grande números, oferta e procura, blablablá.
Escolho um livro com as miúdas e espero numa caixa. As caixas vão abrindo e fechando a bel-prazer, criando fenómenos migratórios nas filas à volta da escadaria. Decerto não foi pensada para isto, se fosse, não estaria a estorvar ali no meio.
Quando é a minha vez, entendo finalmente porque é que o meu “Ticket” se transformou definitivamente num “Voucher”: só sou autorizado a descontar um Voucher por cada livro. Ou seja, eu tenho que acompanhar as minhas filhas porque não podem entrar sozinhas com menos de 12 anos, mas depois cada um tem que descontar o seu, agora já totalmente à descarada, “Voucher de 10€” em um livro cada, o que significa que tenho ainda que pagar +6,9€ por cada um, no mínimo, para trazer 3 livros com má qualidade gráfica.
“Nós estamos no negócio de vender livros”, repete até à exaustão o responsável de loja as palavras que ouviu na formação / lavagem cerebral. Lamento, mas não estás. Basta olhar para as prateleiras para perceber que a Lello não quer saber minimamente de livros. Estás no negócio de esmifrar o turista. Quando muito, trabalhas na loja de um museu pago. E não há em si nada de mal nisso. Tem um bocadinho menos “glamour”, mas todos temos que comprar pão. Não façam é de conta que são outra coisa. Muito menos com o apoio da autarquia. A enorme vantagem que o “Cartão Porto.” me deu foi cada elemento da família pagar 10€ para entrar numa livraria que para comprar livros ainda tenho que pagar mais 6,9€ no mínimo, num claro benefício da entidade privada face ao munícipe. Por favor, C.M.P., não façam nenhum protocolo com a FNAC.
Se o teu modelo de negócio tem que ser explicado por um jurista e se refugia nas FAQs e letras pequeninas, tens que perceber há algo de muito errado nisso.