Gestão desmistificada
2016-01-07 gestão
Quando me pediram para escrever um artigo para o editorial de gestão, imediatamente fiquei tranquilo, pois é um tema que domino há imenso tempo. Só alguns minutos depois é que me assustei, quando constatei que todos os meus leitores eram também eles especialistas em gestão.
Não há quem nasça gestor. Não terão sido muitos de vós (espero eu!) que alguma vez terão ouvido um soturno petiz dizer que quando fosse grande queria ser “gestor”. No entanto é algo que todos (astronautas, bombeiros e bailarinos incluídos) temos que aprender a ser. Seja logo a perceber quantas vezes podemos contrariar os pais sem incorrer em castigo, seja a comparecer aos dois convites que as duas colegas de secretária da primária enviaram quase em simultâneo, seja qual o teste que devemos empenhar mais tempo de estudo, seja quantos copos podemos beber na noite de graduação. Claro que não conseguimos gerir todas as situações da melhor forma (a parte das colegas de carteira na primária resultava para mim sempre num estalo de cada lado da cara…), mas temos capacidade para o fazer. E acima de tudo, capacidade para analisar os erros e evoluir no futuro.
Não nascemos gestores, podemos (e devemos) trabalhar constantemente para sermos melhores a gerir. Podemos incentivar as nossas crianças a perseguirem os seus sonhos de ser astronauta, bombeiro ou bailarino, mas ao mesmo tempo ensinar que em qualquer dessas profissões, vão ter que ser organizados, cumprir tempos, relacionar-se com outros. Talvez alguns dos que instintivamente consideramos os grandes mestres da gestão, tenham nascido com muito menos capacidades cognitivas ou ambientais que qualquer um de nós, mas trabalharam para conseguir os seus objectivos.
O que quero dizer não é para deixarmos de chamar “grande gestor” ao milionário que compra empresas de sucesso para aumentar o seu espólio. Mas porque não, também, à senhora que consegue equilibrar o seu apertado orçamento com a educação e felicidade dos filhos, ao senhor que escolhe sempre uma forma de deixar os seu clientes satisfeitos, àquele que nunca se atrasa nos seus compromissos, ao miúdo que consegue perceber quando os pais estão preocupados ou tristes e faz uma brincadeira para os deixar com um sorriso no olhar? E, porque não, a todos nós que (com mais ou menos doses de banhos) conseguimos gerir o nosso dia-a-dia de trabalho para apresentar consistentemente bons resultados e os conjugamos com a vida familiar?
O desafio deste texto é que não se escondam da gestão. Ela apanha-vos. Preparem-se, estudem, treinem, vejam-na a chegar. E depois, não da forma descrita por um qualquer pseudo-guru que escreve textos como este, mas sim como sabem que vão desempenhar melhor, exerçam a vossa forma de gerir o vosso trabalho (o que, no caso de um chefe, pode até ser “gerir o meu ego para conseguir obter o máximo dos elementos da minha equipa, aceitando os seus próprios modos de gestão individuais”…).
Adaptando de forma muito, muito livre Mohandas Gandhi (que foi um óptimo gestor de relações humanas, mas não consta que alguma vez tenha comprado uma empresa, ao contrário de, por exemplo, Donald Trump…), “sejam a gestão que gostariam de ter no Mundo”.